O que está acontecendo no mundo corporativo? Por que os profissionais estão “fugindo”?
Busca por qualidade de vida e bem-estar tem motivado cada vez mais profissionais a deixarem seus empregos, sobretudo os jovens em posição de liderança. Um estudo global realizado pela consultoria Mckinsey revelou que 31% de jovens entre 18 e 34 anos podem deixar seus cargos, já profissionais com mais de 35 anos representam 14%. A pesquisa foi divulgada no final de 2022 e envolveu 3000 participantes brasileiros.
Uma pesquisa da Gartner, empresa de consultoria e pesquisa em Recursos Humanos, feita no início de 2024 com quase 3.000 candidatos, mostrou que 36% dos candidatos a emprego de nível sênior, que tiveram que retornar ao trabalho presencial em seu atual empregador, relataram que esse fator influenciou sua decisão de deixar o emprego e buscar um novo trabalho. Portanto, também é possível observar uma insatisfação de profissionais mais seniores. As tradicionais jornadas de trabalho de nove às cinco, a estabilidade de emprego e o crescimento previsível na carreira já não são mais atrativos para muitos profissionais.
Seguem alguns dos fatores que estão contribuindo para uma crescente tendência de “fuga” do ambiente corporativo:
1. Busca por Propósito e Significado
Um dos motivos mais citados para a saída do mundo corporativo é a busca por um propósito mais significativo no trabalho. Muitos profissionais estão em busca de um emprego que vá além do simples ganho financeiro. Eles desejam sentir que estão contribuindo para algo maior, que o seu trabalho tem um impacto positivo na sociedade ou no meio ambiente. Um exemplo comum são pessoas interessadas em buscar alternativas de trabalho no 3º Setor, contribuindo para causas sociais ou ambientais que considerem importantes e façam mais sentido para eles. Em meus atendimentos observo muitos assessorados interessados em fazer esse tipo de movimento.
2. Cultura Corporativa e Saúde Mental
A cultura corporativa tradicional muitas vezes envolve longas horas de trabalho, prazos apertados e uma pressão constante por resultados. Esse ambiente pode levar ao esgotamento profissional, também conhecido como “burnout”, e a problemas de saúde mental. Com o crescente reconhecimento da importância da saúde mental, muitos profissionais estão se afastando de ambientes que consideram tóxicos ou prejudiciais ao seu bem-estar emocional, optando por buscar carreiras fora do estresse corporativo. Além disso, a pandemia de COVID-19 destacou a importância de um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, algo que muitos ambientes corporativos ainda não conseguem oferecer.
3. Flexibilidade e Trabalho Remoto
A pandemia também acelerou a adoção do trabalho remoto, mostrando que muitas funções podem ser desempenhadas com eficácia fora do escritório tradicional. Esse novo modelo de trabalho deu aos profissionais um gostinho da flexibilidade que muitos sempre desejaram, permitindo-lhes equilibrar melhor suas responsabilidades pessoais e profissionais. Agora que experimentaram essa liberdade, muitos estão relutantes em retornar aos antigos padrões de trabalho presencial como mostrou a pesquisa da Gartner. Além disso, a flexibilidade não se refere apenas ao local de trabalho, mas também ao horário, com muitos preferindo trabalhar em horários que melhor se adequem ao seu estilo de vida.
4. Empreendedorismo e Economia Gig
Outro fator significativo é o aumento do empreendedorismo e da economia gig. Economia gig é um modelo de trabalho que se caracteriza por contratos de curto prazo, freelancers e profissionais autônomos. Os profissionais são independentes, não possuem vínculo empregatício formal e trabalham sob demanda. Plataformas digitais e a acessibilidade da tecnologia tornaram mais fácil para os profissionais lançarem seus próprios negócios ou trabalharem como freelancers.
5. Mudança de Prioridades Pessoais
A pandemia levou muitas pessoas a reavaliarem suas prioridades e a considerarem o que realmente é importante para elas. Muitos perceberam que querem passar mais tempo com a família, perseguir hobbies ou viajar, em vez de gastar a maior parte de seu tempo em um escritório. Essa mudança de prioridades pessoais levou muitos a deixarem o mundo corporativo em busca de um estilo de vida mais equilibrado e gratificante.
6. Estagnação de Carreira e Falta de Reconhecimento
Em ambientes corporativos, muitos profissionais enfrentam estagnação de carreira, onde as oportunidades de crescimento são limitadas e o reconhecimento é escasso. Sentimentos de subvalorização e falta de progresso podem levar à frustração e à decisão de procurar oportunidades fora da estrutura corporativa tradicional. O desejo de um ambiente onde suas habilidades sejam mais reconhecidas e recompensadas está levando muitos a explorar outras alternativas.
7. Pouco foco em conversas de carreira
A prática de feedback é utilizada em muitas organizações, no entanto, conversas formais sobre carreira não são muito usuais, o que pode gerar descontentamento, especialmente se não existe compatibilidade entre o que se espera e pode ser oferecido. É importante a inclusão desta iniciativa na agenda das lideranças. No geral identifico certo receio dos profissionais em manterem relações genuínas e autênticas dentro das organizações. Transparência nos relacionamentos é fundamental!
8. Ambiente de Trabalho Pouco Acolhedor e Igualitário
Questões de desigualdade de gênero, racial e outras formas de discriminação ainda são prevalentes em alguns ambientes corporativos. A falta de diversidade e inclusão pode fazer com que os profissionais, especialmente aqueles de grupos sub-representados, sintam-se alienados ou subvalorizados. Esses profissionais estão cada vez mais optando por ambientes de trabalho que são mais acolhedores e igualitários, ou estão criando suas próprias oportunidades onde podem prosperar sem as barreiras tradicionais.
9. Insatisfação com a cultura organizacional
As empresas têm culturas organizacionais distintas, e nem sempre essas culturas se alinham com as preferências e valores pessoais. Se um profissional não se identifica com a cultura e valores de uma empresa, é provável que busque um ambiente que melhor corresponda às suas expectativas.
A fuga do mundo corporativo é um reflexo das mudanças nas expectativas e valores dos profissionais modernos. À medida que a busca por propósito, flexibilidade, reconhecimento e um ambiente de trabalho saudável se torna mais importante, as empresas tradicionais enfrentam o desafio de se adaptar a essas novas demandas. Para atrair e reter talentos, será crucial que as organizações repensem suas abordagens, promovendo uma cultura corporativa que valorize o bem-estar, a diversidade e o desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores. O futuro do trabalho está em constante evolução, e as empresas que desejam sobreviver e prosperar precisarão acompanhar essas mudanças.